sábado, 18 de agosto de 2012

Ow Yeah -Q


CHAPTER I -  Pain

O espelho à sua frente retratava a verdadeira face do que seria um jovem enfrentando crises cotidianas. Sua pele estava mais clara do que de costume devido à falta de exposição ao sol, seus cabelos negros haviam crescido bastante em relação ao mês anterior. Devia ter uns 1,75cm de altura. Atualmente estava com 72kg, finalmente estava notando diferença em seu peso.//
Mês passado começou a querer emagrecer a qualquer custo, desde então havia perdido cerca perdeu de três a cinco quilos desde que começou a querer emagrecer há qualquer custo. Não podia negar que teve recaídas, teve várias mas ... talvez, fossem essas recaídas as quais que o fizeram ele perder mais quilos... graças há um método muito conhecido popularmente.

Era simples, toda vez que não se agüentava e comia algo -que prometeu não ingerir- corria feito um doido para um banheiro mais próximo, e com a ajuda do dedo indicador alcançava a campainha do céu da boca. Em seguida vinha a vontade de vomitar tudo aquilo e, em um misto de tristeza e alegria, ele chorava... Ás vezes de arrependimento, outras vezes por desejar pôr pra fora todo o sangue do seu corpo que fosse desnecessário para sua sobrevivência.

Colocou a mão dentro de um dos dois bolsos do seu casaco de capuz preto, que havia coberto cobria sua cabeça – apesar de não estar fazendo frio algum –, somente uma franja caía sobre seu rosto, porém ela era curta demais e não passava da testa. Pôs a outra mão no outro bolso e achou o que estava procurando. Pelos reflexos – do espelho e da navalha – pôde ver o brilho que continha nos olhos castanho-escuros ao segurar a lâmina cortante  Segurando a lâmina reluzente em suas mãos, o garoto pôde ver pelo reflexo da mesma -e até mesmo do espelho- o brilho que continha nos olhos castanho-escuros, brilho esse que condenava sua vontade em cometer a próxima ação.

— Um motivo, um corte.  – Proferiu a frase que soava em forma de sussurros todas as vezes em que se cortava. Todas as vezes enquanto ele dizia para seu reflexo o motivo do ato e deslizava a navalha sobre a sua própria pele, na hora que quando terminava de se justificar partia então para o corte. Nesse período todo de -cerca de um ano- tiveram houveram vários cortes e motivos memoráveis, vários tamanhos e espessuras, várias cicatrizes e várias mentiras contadas para os pais quando questionavam sobre as lesões.  
— Essa semana os garotos da escola recomeçaram a me ... – Soluçou tentando engolir o choro. As lágrimas desceram inevitavelmente (Ficaria bom também: desciam involuntáriamente), mais cedo ou mais tarde sabia que isso iria acontecer de novo.  —  ... zoar ... – O choro tornou-se mais estridente, histérico. Pegou a toalha e enfiou a ponta dela dentro da boca para abafar o som, não queria que os o pais ouvissem de maneira alguma.

Tudo começou no início do ano letivo quando Kevin havia conhecido um cara com o perfil usando um o pseudônimo chamado de Bill em uma rede social. Os dois ficaram meses conversando virtualmente até se tornarem “grandes amigos”, Kevin lhe confidenciou grandes segredos de sua vida pessoal. Uma semana depois dos dois trocarem cantadas pelo chat, Bill desapareceu misteriosamente da rede. De lá pra cá a vida de Kevin se tornou um inferno. Ele descobriu mais tarde de que Bill não existia, que aquele era um perfil fake que os garotos do time criaram somente com o prazer de poderem descobrir sobre sua vida pessoal e terem a quem zoar todos os dias.

— Essa gota de sangue eu dedico a todos aqueles que me viram todos os dias sendo humilhado, xingado, machucado por eles e não fizeram nada. Somente observaram.  — Após proferir todo esse sofrimento ainda com a ponta da toalha dentro de sua boca, cuspiu-a e  mordeu o lábio inferior, dobrou a manga esquerda do casaco e vagarosamente passou a lâmina da navalha sobre seu pulso, no lado de baixo. Com a manga arregaçada era possível notar nitidamente os cortes no braço esquerdo do jovem. Cada um daqueles cortes tinha uma história, um motivo. Cada um deles foi lubrificado com as lágrimas de Kevin.

Passou-a traçando uma linha retilínea sobre o local onde o coloca seu relógio veda todas as manhãs quando vai para a escola. Conforme as lembranças pavorosas do que faziam consigo surgiam, mais ainda ele perfurava internamente o pulso. Mordeu com mais força o lábio inferior, parou por um segundo e sentiu um líquido percorrer sua boca, era o gosto quente e aliviante de seu próprio sangue.

Novamente sentiu a mesma sensação extasiante do que anteriormente, porém em escala maior. Olhou para baixo, seus olhos brilharam novamente ao ver o corte que havia acabado de fazer. Deixou o pulso frente a frente com o seu nariz, aaah ...! como isso era extasiante! Em seguida passou os lábios sobre o seu recente corte. O gosto, o cheiro, a imagem do seu sangue inocente escorrendo traziam consolo para esse jovem, era como se ele estivesse desabafando com alguém, como se tivesse ... tirado um fardo das costas.